sexta-feira, 10 de outubro de 2008

1. "A Insustentável Leveza do Ser", Milan Kundera

Leitura do livro "A Insustentável Leveza do Ser", Milan Kundera,
em 2003, 2005 e 2008

*Trabalho no âmbito da disciplina Português B - 12º ano (2005)
Texto expositivo – argumentativo: relacionar o título de uma obra literária com a mesma

O título do romance de Milan Kundera, “A Insustentável Leveza do Ser”, prende-se com a ideia da inexistência do eterno retorno em que se encontra fundado o Cristianismo e a própria Europa moderna, perante a qual o autor manifesta sentimentos, ora de conformismo, ora de amargura e revolta.
Ao longo da obra, Kundera aborda o destino do homem e do mundo, apresentando reflexões sobre a existência e a temporalidade, referindo frequentemente o eterno retorno associado a Nietzsche. Segundo esta concepção a energia e a matéria de um universo em fluxo constante são finitas, e os acontecimentos repetem-se um número incontável de vezes no eterno retorno, pelo que todos os gestos possuem o peso de uma insustentável responsabilidade e levava Nietzsche a considerar a ideia do eterno retorno como o fardo mais pesado.
Pelo inverso, na ausênica da consciência do eterno retorno, a vida é leve, insustentavelmente leve, “como poeira ao vento”, vai e não volta, já que se baseia na lineariedade do tempo da doutrina cristã, em que a existência tem princípio, meio e fim e, por isso, tudo o que acontece nesta vida, bom ou mal, não se repetirá.
Assim, a II Guerra, por exemplo, e as suas consequências devastadoras, tal como são retratadas no livro por meio de personagens históricas e fictícias que movem num tempo antes e depois da guerra, tendo sobretudo como pano de fundo a República Checa, não conhecerão retorno, caminham já para o esquecimento.
Com a Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera relembra a história e a vida dos que construíram a história, ao homem do presente e do futuro, cuja vida é “terrivelmente leve” e não passa de “um esquisso sem quadro”.



* Extractos do livro "A Insustentável Leveza do Ser"

"O mito do eterno retorno diz-nos, pela negativa, que esta vida, que há-de desaparecer de uma vez por todas para nunca mais voltar, é semelhante a uma sombra, é desprovida de peso, (...)"p.11

"Se cada segundo da nossa vida tiver de se repetir um número infinito de vezes, ficamos pregados à eternidade como Jesus Cristo à cruz." p.13

"Tomas repete em silêncio o provérbio alemão, einmal ist keinmal, uma vez não conta, uma vez é nunca. Não poder viver senão uma vida é pura e simplesmente não viver." p.17

"É natural que quem quer elevar-se sempre mais, um dia, acabe por ter vertigens. O que são vertigens? Medo de cair? Mas então porque é que temos vertigens num miradouro protegido com um parapeito? As vertigens não são o medo de cair. É a voz do vazio por debaixo de nós que nos enfeitiça e atrai, o desejo de cair do qual, logo a seguir, nos protegemos com pavor." p.75

“(...) suponhamos que havia no universo um planeta onde pudéssemos vir ao mundo pela segunda vez. Ao mesmo tempo, embrar-nos-iamos perfeitamente da vida passada na Terra, de toda a experiência já adquirida.
E talvez houvesse outro planeta onde viéssemos à luz pela terceira vez com a experiência das duas vidas anteriores.
E talvez fosse havendo sempre mais planetas onde a espécie humana fosse renascendo sempre um grau mais acima na escala da maturidade.
Era assim que Tomas via o eterno retorno.” p.254

“É uma palavra alemã que apareceu em meados do século XIX sentimental e que depois se vulgarizou em todas as línguas. Mas a sua utilização frequente fê-la perder todo o valor metafísico original: o kitsch é, por essência, a negação absoluta da merda; tanto no sentido literal como no sentido figurado, o kitsch exclui do seu campo de visão tudo o que a existência humana tem de essencialmente inaceitável.” pp.281/2
“A interrogação é como faca que rasga a tela do cenário para permitir que se veja o que está atrás.” p.289


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